Tecnologia

Onda “anti-tecnologia” no mundo vira dor de cabeça para o Vale do Silício

Casos de invasão de privacidade, falta de mediação de conteúdo de ódio e mesmo a exploração de funcionários do setor têm servido como contrapropaganda de empresas que nasceram e cresceram no Vale do Silício; o avanço da IA generativa também assusta os usuários

Há uma onda anti-tech em curso no mundo — e isso pode ser um grande problema para os investimentos em inovação. Processos judiciais contra o Facebook e o Google, tanto partindo de pessoas físicas quanto de governos, colocam em evidência os erros (e ilegalidades) cometidos pelas big techs ao longo da última década. Casos de invasão de privacidade, falta de mediação de conteúdo de ódio e mesmo a exploração de funcionários do setor têm servido como contrapropaganda de empresas que nasceram e cresceram no Vale do Silício.

O assunto foi discutido em mais de um painel — e também no cafezinho — do Brazil at Silicon Valley, na Califórnia. De gestores de venture capital, preocupados com o fluxo de investimento em soluções de deep tech e inteligência artificial, aos entusiastas de criptoativos e founders de startups, há um desejo em comum de reverter a imagem que vem se formando em torno do setor.

Um dos pontos debatidos foi o rápido avanço da IA, tema que foi impulsionado nos últimos meses pela popularização do ChatGPT. A corrida para desenvolver e implementar mentes digitais cada vez mais poderosas tem gerado um certo pânico, alimentado por um receio de que a IA saia do controle de quem a opera e das autoridades – como ocorreu, em outra dinâmica, com as redes sociais.

Para o investidor indiano Vinod Khosla, o que se vê hoje é um “sentimento anti-IA”, que, a depender de como cada governo reaja, pode mexer com o tabuleiro da economia global. “Os países que mais se adaptarem a essas novas tecnologias e alavancarem seu potencial largarão na frente”, disse ele nesta terça.

No fim do mês passado, pesquisadores e até CEOs de grandes companhias de tecnologia — incluindo o polêmico Elon Musk — assinaram uma carta pedindo uma pausa no desenvolvimento de projetos de inteligência artificial acima de GPT4. Alegando uma preocupação ética com a ferramenta, os especialistas apontaram que o poderoso machine learning de empresas como a OpenAI é de difícil controle no que tange à privacidade e à discriminação de dados sensíveis.

Em um debate com o célebre Peter Norvig (do Google e de Stanford), o fundador da Scale AI e mais jovem bilionário do mundo, Alexandr Wang, concordou que as preocupações são relevantes, mas foi categórico ao afirmar que o caminho não é desacelerar o desenvolvimento. Na opinião dele, a pausa nas pesquisas pode se tornar uma questão de crise geopolítica, com emergentes asiáticos, incluindo a China, saindo à frente dos EUA com essa tecnologia.

“Estão mais do que provadas as aplicações dessas ferramentas de IA generativa no campo militar e geopolítico”, disse. “Precisamos continuar desenvolvendo essas tecnologias dentro de casa, mesmo que seja num ritmo mais lento.”

A aversão ao deep tech está se tornando um incômodo também ao setor de criptoativos. Para a COO da Coinbase, Emilie Choi, esse ambiente “anti-tech” representa uma reação aos erros cometidos por grandes empresas de tecnologia. “Portanto, acho que nós todos, como indústria, devemos trabalhar para garantir que estamos fazendo a coisa certa e corrigir esses erros. Mas é muito importante que tenhamos a capacidade de continuar experimentando”, disse ela.

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